VIRADAS E ZEBRINHA FORAM OS DESTAQUES DA ÚLTIMA RODADA



Dia frio na cidade e arredores. Sábado de garoa paulistana na capital espacial do Brasil. Vento de cortar o osso. Os eggs encolhidos até as amígdalas. Nada melhor para esquentar do que pegar rota do sol e seguir a sede da ASTRA 21 para acompanhar a última rodada do segundo turno do 14º Campeonato de Minifutebol.

 As mais diversas probabilidades havia antes da bola rolar para o primeiro jogo. Quem seria o último classificado? Essa era a pergunta principal. Real Natal ou Tribunal de Justiça? Quem seria o adversário da Justiça Federal, virtual favorita para ocupar o primeiro lugar e ter a vantagem do empate e de jogar no sol mais frio? As casas de apostas faturaram alto, pois a zebrinha andou circulando para conhecer o sabor da grama verdinha e suculenta da ASTRA 21 e trouxe, ao final, um cruzamento na semifinal que ninguém imaginava.

1º Jogo: Real Natal x Meia Boca. Situação: Real precisando vencer para se garantir sem necessidade de qualquer outro resultado. Derrota ou empate o deixaria dependente do TJ. O Meia Boca já estava classificado, mas a vitória lhe garantiria, ao menos, a segunda colocação e a vantagem do empate na semifinal, independente com quem cruzasse. Jogo franco, portanto, até porque não dava para fazer “jogo de compadres”. Times quase completos. O Real Natal sem Jáder. O MB sem Dirceu. No Real a presença de Cuca “Nunes”, com sua fama de sempre marcar nos jogos decisivos. No MB a marra de Gibalotelli. Aliás, saibam os senhores, Gibeon agora é empresariado por mim. Contatos e contratos só com o meu aval. A fama de Giba ultrapassou as fronteiras de Goianinha e, pasmem, já chegou a Canguaretama, Arez, Espírito Santo e São José de Mipibú, cidades limítrofes a metrópole do agreste. O craque vive seus minutos de fama. Como na música de Cazuza, “o nosso astro merece, ao teu fã-clube fiel, dá autógrafos em talão de cheque”.

Charles Elliont, com seu andar de Pink Panther, não se mostrava dos mais interessados em se molhar naquela garoinha infeliz. Mas, como quem “tá na chuva é para se queimar”, o homem de preto assumiu as rédeas da partida e o comando da arbitragem.

 Em cada time um infante combatente a comandar sua tropa (se tem mais eu não sei). No Real, Tenente Rufino jogou como um pé preto na guerra. Na mente a musiquinha com que era despertado em corridinhas matinais sob a mesma chuva de ontem: “infante é o guerreiro que mata guerrilheiro, com a faca nos dentes esfola ele inteiro”. Na trincheira oposta, Tenente Péricles, 136 kilos de redonda disposição para exercícios de maleabilidade, respondia a provocação do “inimigo” e completava o versinho com “mata, esfola, usando sempre o seu fuzil, infante é o guerreiro que acredita no Brasil”.

Marcelo Patinha, que tem jeito de ter sido excesso de contingente, esqueceu a sacola de gols perdidos do jogo anterior e se deixou entusiasmar pela vibração de Rufino. Aliás, todo o time do Real fez uma partida quase primorosa. Durante 45 minutos jogaram com disciplina tática e disposição. Até o fim do terceiro quarto o Real vencia por 2x0, garantia-se como o último classificado e mostrava que tinha bola para encarar qualquer time que tivesse de enfrentar na semifinal.

O Meia Boca se deixou pilhar pelo rugido do Leão. Marcelo, o “Siro cover”, passou a reclamar da chuva, do vento, da bola, da grama, do calor que fazia em Santana do Matos, enfim, a reclamar de tudo. Enquanto ele “se reclamava-se de tudo e todos” (imperfeição gramática consciente do resenheiro), o Real Natal se aproveitava.

Até que os deuses do futebol – e da guerra – entraram em campo. O Tenente Péricles, político como Churchill, estrategista como McArthur, operoso como ele próprio, nos últimos 15 minutos avançou pelo flanco direito em dois ataques coordenados, diminuindo e empatando a partida. Daí pra frente, o verde do Real amarelou, com Scala e Rubinho ajudando a conquistar o território inimigo. Na batalha particular entre os infantes, Péricles deu ordem unida em Rufino, mas a guerra só será decidida no próximo sábado quando se encontram novamente numa das semifinais.

Um parêntesis: Nosso avante Bruno fraquejou na guerra. Não marcou, perdeu um gol dos mais feitos da história dos 14 anos de campeonato e ainda precisou de atendimento médico no fim tal a vergonha que sentia. Outro detalhe foi o nosso Gibalotelli. Dessa vez ele entrou para “acabar com o jogo”. Literalmente. Bastou ele pisar no gramado para Charles encerrar a partida.

2º. Jogo: Piratas x Justiça Federal. Situação: A JF passou a semana pensando em jogar fácil, vencer e garantir o primeiro lugar. Era a barbada da rodada. As casas de apostas pagavam pouco por este jogo. Os Piratas entraram naquela de jogar sua última partida e completar sua sina de ser goleado ou jogar bem e perder no fim do jogo. Então os deuses do futebol voltam a atacar. A JF esteve irreconhecível. Cada um de seus jogadores jogava de freio de mão puxado e duas bolas de ferro em cada perna. Relaxamento, soberba, certeza que venceriam, não há como explicar. O certo é que os Piratas fizeram 1x0. O time jogava com Fábio e Caio, o que deu mais mobilidade ao meio. Bolha corria lá na frente. Luis e Odilon se apresentavam pelas laterais. Zé Maria “Capistrano Jr” limpava a área e Pirulito fechava o gol. O resto completava o time. A JF chegou a empatar, mas as ações eram definidas pelos ex pernas-de-pau, agora aspirantes a craques. O ataque avassalador da JF, com Bago e Denilson, virou ataque cardíaco. Cada chute a gol era uma melancia ou um Viva São João!!! Tutu foi quem ainda deu um certo trabalho a zaga, mas não era dia da JF. Zé Maria mandou um míssil do meio de campo e Gentile aceitou. 2x1 para os Piratas. Nada demais, Gentile. Foi um mero acidente de trabalho. O problema é que algumas profissões como piloto de avião, cirurgião de hemorróidas e goleiro não podem falhar. Tutu ainda empatou para deixar um resultado menos traumático. Findou-se a rodada da manhã com Meia Boca em 1º, JF em 2º, OAB em 3º e Real Natal em 4º, faltando ainda uma partida a definir e que poderia mudar totalmente essa composição.

Um parêntesis: Em meio a névoa da manhã e a chuva fina de frio cortante, sobre a cabeça de cada atleta da JF, do treinador Genildo e até de Augusto Superior, que se recuperava da jaca que ele infantilmente enfrentou no jogo passado, uma nuvemzinha negra acompanhava a cada movimento. Uma uruca particular. Trabalho ou despacho???

3º Jogo: OAB x Tribunal de Justiça. Situação: O TJ obrigado a vencer para se classificar e ser o 4º colocado. A OAB, se perdesse ou empatasse, seria o 3º e jogaria a semifinal sem vantagem alguma. Portanto, a vitória interessava a ambos. Como a partida foi à tarde, Charles já estava cansado de tanto passear no centro do campo pela manhã e mandou um outro árbitro, coisa que sempre tem feito quando a rodada é cheia. Nada demais. E como também sempre acontece, todo mundo reclama do novo árbitro. Não tem um que chegue que será aceito. Charles mandou Chateaubriand apitar e o cara quase foi comido mal passado no fim do jogo. Sobre a interpretação da frase não vou deixar somente com a fértil imaginação de vocês. Vou explicar. Aliás, ultimamente eu tenho usado da minha cultura geral para aumentar o conhecimento daqueles três ou quatro que se interessam por ler essa resenha a cada fim de semana. Então, aprendam. Chateubriand é o nome do árbitro enviado por Charles. Assim como “Filé a Chateaubriand” é uma iguaria servida nos melhores restaurantes do mundo e se trata de generosa porção de filé alto, com molho madeira, champignons e batatas douradas, devendo ser servido, preferencialmente, mal passado.

Vamos ao jogo que o filé deu indigestão no final.

A OAB desfalcada, porém, entrou acesa no jogo. O TJ apostando suas fichas em Marquinhos, contratação de última hora e que assumia o encargo de salvador da pátria. Há certas coisas que acontecem em um jogo de futebol que são chamadas de tendências. A OAB começou o jogo sem seu goleiro Cleilton e sem Aldo, dois reforços importantes que não conseguiram chegar a tempo por problemas na estrada, já que vinham de Mossoró só para o jogo. Os advogados não tinham centroavante e mandaram Geraldo assumir o posto. Bem, para quem é canhoto e já foi designado de lateral-direito, ser centroavante era fichinha. E num é que deu certo! E pior, da forma mais inexplicável. Em escanteio lançado na área, ele, com seu metro e meio, subiu no meio da defesa para abrir o placar. Olha a tendência. Geraldo seria, decididamente, o personagem da partida, por bem ou por mal, em qualquer raça ou credo. O jogo pegou fogo e nas labaredas do inferno quem manda é o cão. Marquinhos, contratação do TJ para levar o time as semifinais, empatou a partida e deu esperanças a sua equipe. Se em campo a chapa tava quente com o Chateubriand sendo cozido, fritado, assado a cada lance, do lado de fora não era diferente. As torcidas dos dois times batiam boca. Dedos médios eram apontados. Frases típicas de arquibancadas eram proferidas de lá para cá e de cá para lá. A mesa, que nada tinha a ver com isso, ficava no meio do fogo cruzado.  E o jogo seguia com muitas faltas. Falta de educação, falta de respeito mútuo entre os jogadores e com a organização do campeonato, falta de futebol. Passou-se a querer ganhar no grito. Mas para quem sabe jogar a bola chega suave. Foi assim com Maurício, a quem se merece dizer, pouco se escuta sua voz em campo, mas que tem o dom de saber fazer gols. Do seu pé direito saiu a virada e o TJ começou a se ver na semifinal. Então, lá vêm eles de novo. Os deuses do futebol. Ataque da OAB, Siro chuta de fora da área, o irmão gêmeo de Ronaldo rebate, Tales pega a sobra e chuta de primeira, novamente o goleiro intercepta, sobrando a bola livre para Luiz Fernando que chegava a área adversária. Numa situação normal, o paranaense teria mandado um chutaço a gol para estufar as redes. Contudo, bateu mansamente de chapa na tentativa de colocar com categoria no gol. O chute sai fraco. Não teria sucesso. Mas, de repente, aparece o pé de Alexandre no meio da trajetória e empurra contra o seu patrimônio. Olha a tendência outra vez. Empate que desclassificava o TJ e deixava a OAB em terceiro. Não interessava para ninguém. As duas equipes já tinham ultrapassado o limite de faltas possíveis. Inicia-se o último quarto e o TJ tem a chance de mais uma vez ficar à frente do placar em um chute direto após ser marcada a sexta falta a seu favor. Marquinhos ajeita a bola e manda um chute forte à meia altura no lado direito do gol de Cleilton que tinha entrado, exatamente, para jogar somente os últimos 15 minutos. O goleirão foi lá e mandou para escanteio. Pouco depois, a situação de inverte. Sexta falta contra o TJ. O mesmo Cleilton pega a bola e fica frente a frente com Ronaldo “Cover”. Cobrança perfeita e a OAB, de novo, na frente do jogo. A tendência mostrando que existe.  O TJ ainda lutou bravamente, mas não tinha mais tempo. Final de jogo e a OAB classificada e o TJ eliminado.

O clima esquentou após o fim do jogo. Bate boca geral. Pessoas que nunca antes estiveram na ASTRA 21 se mostrando valentes. Advogados e servidores da Justiça do Rio Grande do Norte, todos com educação esmerada, cunhada em dignas famílias e colégios finos, trocando ameaças e promessas de idas a delegacias para formularem denúncias. Num jogo que tinha tudo para ser uma pintura, concluiu-se sem cor e sem brilho.

Enfim. Com os resultados as semifinais, que já serão jogadas no próximo sábado, terão Meia Boca x Real Natal, reeditando a batalha de sábado, e OAB x Justiça Federal, com vantagem do MB e da OAB decidida no saldo de gols, pois todos os três ficaram com 16 pontos e o Real com 10.

Um parêntesis: A organização do campeonato é a responsável pelo que acontece nos jogos e na sede da ASTRA. O que é bom e o que ruim. Assumo isso. O futebol, como qualquer esporte coletivo, deve ser mediado por um terceiro, que é chamado de árbitro. A ASTRA 21 contrata Charles Elliont para que ele trabalhe ou indique um profissional nos jogos. As equipes participantes sabem que esse é o procedimento. Nunca houve questionamento, prova maior que confiam em Charles e sua equipe. Erros, falhas acontecem. Mas não se pode dizer que o profissional chegue mal intencionado contra X ou Y. Lembro que a minha equipe foi prejudicada, acintosamente, há 03 anos atrás numa semifinal e usei este mesmo espaço para reclamar e, para os que se lembram, concluí o texto lamentando, mas dizendo que o “choro era livre”. A participação do Sr.  Chateaubriand, se não foi uma excelência de apito, não pode ser responsabilizada pela derrota ou desclassificação do TJ.



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